Cortesia digital: dizer 'por favor' e 'obrigado' à IA pode impactar a eficácia das respostas e os custos do desenvolvedor
- Hebert Durães
- 25 de abr.
- 4 min de leitura
A interação com IAs como o ChatGPT está se tornando cada vez mais comum, mas muitos usuários ainda se perguntam: será que usar expressões como "por favor" e "obrigado" tem algum efeito prático? De acordo com o estudo de Blasi (2025), o uso dessas palavras gera uma série de custos significativos para as empresas de IA. O simples ato de ser educado pode, na verdade, resultar em um aumento considerável nos gastos de processamento de dados, uma vez que cada interação exige mais recursos para ser adequadamente interpretada e respondida.

Isso nos leva à questão de como as IAs, como o ChatGPT, aprendem com o comportamento humano. Dutra (2025) explica que as IAs são projetadas para analisar e replicar padrões de linguagem humana. Elas observam os dados de entrada e aprendem a responder com base em exemplos anteriores. A interação com a IA é, assim, uma via de mão dupla: o comportamento do usuário influencia a forma como a IA responde e, ao mesmo tempo, a IA tenta adaptar suas respostas para refletir a maneira como os humanos se comunicam.
A IA, portanto, tende a replicar o comportamento dos usuários. Plaza (2025) destaca que o uso de "por favor" e "obrigado" pode moldar o modo como o ChatGPT responde, criando um ciclo onde a cortesia nas interações gera respostas mais refinadas. A IA começa a perceber essas palavras como um sinal de respeito e educação, replicando esse padrão em suas respostas.
Além disso, Guilherme (2024) aponta que essa gentileza pode, de fato, otimizar as respostas. As interações educadas tendem a resultar em respostas mais claras e apropriadas, já que a IA compreende que o tom da solicitação é mais formal e respeitoso. A IA, então, ajusta sua abordagem para manter um padrão de interação que seja consistente com o comportamento humano, proporcionando uma experiência mais satisfatória para o usuário.
No entanto, esse processo de otimização tem um preço. Leme (2024) argumenta que o aumento da precisão nas respostas geradas pela IA exige mais capacidade de processamento, o que pode gerar mais custos para as empresas que operam essas tecnologias. Cada interação educada implica em um processamento maior de dados, aumentando os custos operacionais para as empresas de IA.
Por outro lado, como observa Sumares (2024), muitos usuários adotam o comportamento educado ao interagir com a IA devido ao receio do futuro. Uma curiosa pesuisa (Vettorazzo, 2025) mostra que cerca de 70% dos usuários do ChatGPT e afins estão tratando a IA com gentileza e educação por MEDO de uma possível revolução das máquinas.

Com a crescente presença de tecnologias como a IA, há uma preocupação com a forma como o sistema pode evoluir e com os possíveis impactos de interações "desrespeitosas" ou imprecisas. Assim, ao adotar uma postura mais cortês, muitos se sentem mais seguros de que suas interações serão mais eficazes e que suas solicitações serão compreendidas adequadamente.
Além disso, Vettorazzo (2025) ressalta que, embora o comportamento educado seja amplamente incentivado, o medo também desempenha um papel importante. A expectativa de que a IA pode "julgar" ou até mesmo influenciar as decisões de seus usuários faz com que as pessoas, muitas vezes, optem por ser excessivamente educadas. O receio de causar uma resposta negativa ou incompleta pode levar os usuários a adotar uma postura excessivamente formal.
Em outras palavras, dizer "por favor" e "obrigado" ao ChatGPT e outras IAs não é apenas uma questão de cortesia, mas sim um fator que influencia diretamente a forma como as respostas são geradas, com custos significativos para as empresas envolvidas já que a gentileza nas interações, embora benéfica para a otimização das respostas, acaba gerando um aumento nas demandas de processamento de dados.
No final das contas, a educação nas interações com a IA pode ser uma estratégia tanto para melhorar a experiência quanto para atender a uma "ficciosa" necessidade de segurança frente ao futuro da tecnologia...
Referências
BLASI, Bruno De. Dizer 'por favor' e 'obrigado' ao ChatGPT custa 'milhões de dólares'; entenda. Canaltech, 22 abr. 2025. Disponível em: https://canaltech.com.br/inteligencia-artificial/dizer-por-favor-e-obrigado-ao-chatgpt-custa-milhoes-de-dolares-entenda/. Acesso em: 24 abr. 2025.
LEME, Rodrigo. Você deve usar 'obrigado' e 'por favor' no ChatGPT, Gemini e outras IAs? Olhar Digital, 14 abr. 2024. Disponível em: https://olhardigital.com.br/2024/04/14/internet-e-redes-sociais/voce-deve-usar-obrigado-e-por-favor-no-chatgpt-gemini-e-outras-ias/. Acesso em: 24 abr. 2025.
GUILHERME, Paulo. Seu 'por favor' e 'obrigado' enviados ao ChatGPT já custaram milhares de dólares à OpenAI. Tecmundo, 2024. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/mercado/404108-seu-por-favor-e-obrigado-enviados-ao-chatgpt-ja-custaram-milhares-de-dolares-a-openai.htm. Acesso em: 24 abr. 2025.
DUTRA, Gustavo. Ser educado com a IA melhora interação, mas gera problema grave. DOL, 22 abr. 2025. Disponível em: https://dol.com.br/noticias/tecnologia/903386/ser-educado-com-a-ia-melhora-interacao-mas-gera-problema-grave. Acesso em: 24 abr. 2025.
SUMARES, Gustavo. Por Que Você Deveria Ser Educado com o ChatGPT e Outras IAs. Forbes, nov. 2024. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-tech/2024/11/por-que-voce-deveria-ser-educado-com-o-chatgpt-e-outras-ias/. Acesso em: 24 abr. 2025.
PLAZA, William R. 70% dos usuários dizem 'por favor' e 'obrigado' ao ChatGPT – e o medo é um dos motivos. Hardware.com.br, 27 fev. 2025. Disponível em: https://www.hardware.com.br/tecnologia/70-dos-usuarios-dizem-por-favor-e-obrigado-ao-chatgpt-e-o-medo-e-um-dos-motivos/. Acesso em: 24 abr. 2025.
VETTORAZZO, Lucas. 70% dos usuários de IA cumprimentam o ChatGPT e não é necessariamente por educação, mas por causa do Exterminador do Futuro. IGN, 2025. Disponível em: https://br.ign.com/tech/137030/news/70-dos-usuarios-de-ia-cumprimentam-o-chatgpt-e-nao-e-necessariamente-por-educacao-mas-por-causa-do-e. Acesso em: 24 abr. 2025.
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